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Por: Roberto Zaghini |
Quando era criança, ouvia falar cada coisa sobre o céu à noite: por exemplo que não se podia apontar para estrelas com o dedo pois causaria verruga... kkk Até parece, mas eu via as estrelas e admirava o brilho delas, no céu azul escuro, com aquelas luzes prateadas. |
Nesta ciclo viagem do Amigos do Pedal, a harmonia começava bem na noite deste pedal, havia relativa participação de mulheres, o que não é tão comum, e torna o pedal mais suave e brilhoso. |
Tudo começou com apenas meia hora de atraso, nada que incomodasse o ânimo do pessoal. Venceram os primeiros quarenta quilômetros e no início da rodovia Bandeirantes fizeram a primeira parada. |
A partir daí começou a maior das provações para aquele grupo de TRINTA GUERREIROS DO PEDAL. Na estrada conforme avançavam a madrugada, o frio era cada vez mais gelado, com a umidade. |
Transitávamos pelo acostamento, e à direita muito verde, alguns grunhidos que poderiam ser de pássaros ou alguns animais que nem dava pra identificar. Ao longo da estrada, via-se no acostamento aquela coluna de vaga lumes, que se transformou o grupo de ciclistas. |
Alguns motoristas de caminhão acionavam suas buzinas saudando os bravos do pedal, e entre nós havia ciclista que respondia com sua buzina a ar.
Era uma aventura, enfrentamento de dificuldades misturado com bom humor e animação. |
Alguns trouxeram aquela pequena torre musical, e um deles caprichou com cartões de memória repletos de músicas variadas. |
Por volta da segunda parada, já rolava um som dançante que as meninas faziam questão de acompanhar.
Assim enquanto os ciclistas formavam aquela coluna de vagalumes na noite, ouvia-se os gritos de uhuuhuuuhuu uhuuhuuu, uhuuhuu ecoando, e tome frio gelado. |
Revolta dos fiapos |
A situação dos brasileiros não anda muito fácil, nem por isso perdem o humor, mas sobra para o acostamento.
E por ali onde passavam os bravos ciclistas também se juntavam milhares de fiapos de aço, que se soltam de pneus já bem pra lá de usados, onde a borracha já está na última pele. |
E se tem algo que acerta em cheio os pneus das bikes, são esses fiapos.
Devem estar se vingando dos humanos. Foram úteis como componentes dos pneus, e depois de longa quilometragem de uso simplesmente são lançados nas sarjetas das rodovias. |
Como se estivessem num batalhão gritando: ataaaacaaaar...!!!! |
E tome pneu furado. Na terceira parada já haviam furado bem uns três pneus, aproximadamente. E nessa circunstância a solidariedade do grupo também se movia, ajuda para tirar pneu, soltar a câmera, achar o bendito fiapo, retirar com alicate, e recolocar outra câmera no lugar. |
E isto foi se repetindo, o som prosseguia à toda na escuridão. No céu as estrelas estavam presentes, mas não me atrevia a contar quantas eram, algumas vezes pude olhar para o céu e constatar que estavam lá iluminando a noite. Que bela companhia. |
Lá pelas três e tanto da madrugada, notei que havia esquecido as luvas, nada que causasse impacto na vontade de vencer o trajeto. As jovens ciclistas também se mantinham firmes.
Algumas e alguns preferiram ocupar a van de apoio, para descansar, E outros, a maioria preferiu continuar pedalando.
Cada um dimensiona suas forças e sabe como melhor fazer uso de sua energia. |
Amanhecendo o dia, já deviam ter furado uma meia dúzia de pneus, sem exagero. Eram os fiapos, aqueles renegados da estrada, que sabiam que não seriam reciclados. |
O futuro desses pequenos pedaços de aço, seria uma enxurrada quem sabe, encaminhá-los para terra onde, feito minhocas restariam à espera de muitos anos para se decompor. |
Enquanto isso não acontecia, estavam ali firmes e fortes, para espetar os pneus dos bravos ciclistas.. que coisa.
Até aí dá pra se medir a condição do brasileiro: Usam seus acessórios até pra lá do limite, o que compromete a segurança por certo. |
Temos a fé como guardiã, é o que move os brasileiros. Os fiapos soltos em grande quantidade, demonstram essa situação. |
Os primeiros raios de sol começavam a surgir, e alguns formavam pequenos grupos para fotografar esse momento mágico. E era também o momento em que aquela friagem da madrugada começava a dissipar. Até que em fim. Mais de cem quilômetros vencidos. |
Um pequeno erro de cálculo fez com que entrássemos num trecho contrário de onde deveríamos ter seguido. Paramos um pouco, e logo fizemos a correção, alcançando um retorno, retomando o roteiro. |
Foi quando avistamos a primeira placa indicando a cidade de Holambra. A querida, e almejada por todos que pedalavam naquela aventura. |
Na quarta parada, havia uma pressão para que alguns ciclistas entrassem na Van, é que com tantos atrasos, um pessoal queria puxar um ritmo mais forte pra chegar logo. |
Ilusão, quem havia chegado até ali, era gente teimosa demais, e fazia questão de vencer todo trajeto; pedal ou morte!!!
Vamos pra cima! |
Tudo que tinha para atrasar já havia acontecido, mas no resumo, foram somente pneus furados. Todos que presenciei atingidos pelos fiapos. Aqueles que não seriam reciclados, e formavam a coluna do avesso, nos cantos da rodovia. |
Estrada difícil, boa qualidade do asfalto e do acostamento, mas com inúmeras saídas e acessos. Lembro que num trecho do percurso ainda na madrugada uma caminhonete da concessionária acompanhou o grupo com os faróis acesos durante um trecho.
Boa companhia, pena que durou pouco. |
Dia amanhecido, e manhã avançando, já pra lá de dez da manhã, lembro da última parada. Como a rodovia já estava bem definida e a direção a seguir bem sinalizada, o grupo de trinta se dispersou um pouco.
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Alguns foram adiante rompendo estrada, outros foram parando conforme sua conveniência. Nessa eu ainda parei uma última vez encontrei a Van de apoio, num posto de combustível. |
Estavam no veículo alguns colegas ciclistas e o motorista, ofereceram ajuda se caso quisesse entrar na van. Quem eu ?? nem pensar vou chegar em Holambra pedalando ...mas até essa teimosia contou com algum apoio, enquanto fui procurar o banheiro da churrascaria, coisa fina hein... teve quem segurasse minha mochila e pude então sentir o alívio de caminhar um pouco esticando as pernas depois de tantas horas pedalando.
Mais um trecho de estrada bem sinalizada, e as placas me levaram certinho para entrada de Holambra. Depois da foto, mostrando a entrada da cidade, avancei e notei que logo após o arco da entrada, estavam ali estirados na grama o primeiro grupo de canelas de aço que haviam chegado primeiro.
Juntei-me a eles e também me estirei na grama... Ainda ouvi alguém passando talvez de carro e gritando... |
- Eita vida boa de ciclista hein, deitados na grama na boa... |
Mal sabia ele o que cada um passou durante toda noite pra chegar até lá. |
Notei que no grupo de whatsap a ciclista que havia permanecido, em Sampa, Francineide estava preocupada com a falta de notícias do grupo viajante.
Enviei rapidamente a primeira foto, informando que já estavam quase todos ali. |
Em poucos minutos o restante do grupo chegou. OS BRAVOS GUERREIROS do Amigos do Pedal formavam para tirar a foto símbolo dessa ciclo aventura. |
Venceram o cansaço, o frio úmido da madrugada, os pneus furados, cheguei a contar cerca de sete, mas um colega informou que seriam nove.
Não sei ao certo, o grupo que chegou por último deve ter consertado mais alguns. Os fiapos se vingaram, sentimos uma parte da situação do brasileiro que trafega pelas estradas. |
Experimentamos também o apoio desses bravos motoristas que nos saudavam com buzinadas pela madrugada, respondemos, e insistimos no pedal. |
Onze horas e estavam todos ali, no objetivo alcançado. Um grande desafio vencido, na persistência, no pedal.
Parabéns a todos do grupo Amigos do Pedal por mais esta conquista. |
*Ubirajara, *Renato, *Suelen, *Amélia, *Alex, *Juliano, *Adelino, *Willian, *Sérgio, *Jonny, *Jucimar, *Marcus, *Cristiane, *Omirene, *Karina, *Osvaldo, *Amauri, *Luis, *Cristiano, *Roberto, *Dayane, *Joby, *Alex de Lelis, *Eduardo, *Ricardo, *Valéria, *Julio, *Diego, *Rodrigo, *Patrícia.
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