Pedalando ao Santuário Aparecida do Norte !

Uma semana depois ainda me perguntava se valeria à pena escrever sobre este pedal.. hummm não sei... saio da frente do computador, caminho um pouco até o quintal...

Estou aqui de volta, no aconchego do lar, e já estive lá na estrada no menor e mais desprotegido veículo possível. Isto não é qualquer coisa!

                    Pedalando ao Santuário de Aparecida
                    com os grupos Vai quem Quer e 
                                            Pedala Grajaú
                    Por: Roberto Zaghini

O que pode parecer comum, é também um milagre, é uma dádiva da vida. 

Aceitei um desafio lançado aqui na região, para ir ao Santuário de Aparecida com um grupo de ciclistas e...

Tentamos agrupar quinze pessoas, mas não estava fácil, fora de época que normalmente é mais intenso entre setembro e outubro, não houve mais que doze a aceitar o desafio.

No dia mesmo, um dos ciclistas teve que desistir por estar se tratando de pneumonia e ainda não havia se recuperado. Mas num gesto nobre, Ailton, não retirou o pagamento feito à Van que nos acompanharia. 

Assim com doze pagantes para bancar o apoio da Van, e onze no pedal, dia e hora marcados.

Sexta treze às 21 horas. NADA DE JASON, nem sua motosserra... 

O grupo se encontrou, alguns cumprimentos apresentação aos que não se conheciam, fotos, acertos de última hora, combinação com o motorista sobre locais de parada e espera do grupo.   

Um breve momento para uma oração pedindo proteção e pronto.

Saímos na avenida Atlântica na zona sul de Sampa em busca do objetivo, queríamos chegar até o Santuário de Aparecida.  Era aproximadamente 22 horas.

O clima estava agradável, a noite refrescante depois de um dia de calor. Avançamos bem indo pela marginal Pinheiros até altura da vila Olímpia, por onde seguimos em direção ao centro da cidade passando pela nove de julho.

Tem um trecho que é demais, parece que me distancio de tudo, é quando aproxima da praça 14 bis, ali depois de atravessar o túnel da nove de julho, a bike pega um embalo muito louco, chegando próximo à  praça das bandeiras, com o marcha na coroa 3 e a última catraca da k7 e ainda dá pra sentir o pedal leve, dá pra superar os 45 km h tranquilo, que sensação maravilhosa...

E nessa sensação cometi o deslize de distanciar um pouco do grupo, até porque havia um colega que não era tão familiarizado com o pedal.

Nada que me deixasse assim tão longe, estava no visual.
Atravessar Sampa é sempre uma emoção, e preocupação, conhecemos um pouco da "educação" no trânsito e desconfiamos sempre da aproximação de veículos.

Atingimos a Tiradentes e avançamos, e em pouco tempo já rompíamos a marginal Tietê, e o Anderson Sampaio, teve a boa ideia de parar o pedal num posto. A ansiedade parece que faz a bexiga encher mais rápido. Foi só um pit stop.

E quando se está no êxtase do pedal, tudo vai muito ligeiro. Lembro da primeira parada, onde encontramos a Van. Já no início da rodovia Ayrton Senna. 

Uma chegadinha no suporte, com bananas, paçoca, e até um cafezinho, que o Anderson levou. A Priscila também estava bem animada, pra pedal essa garota é grande companheira. E aos poucos a gente ia se apresentando, um a um. 

Também havia muitos pernilongos naquele trecho, parece que gostaram da gente, isso também ajudou a turma a se apressar.






Aí o "Primo" resolveu ficar na Van, ele era o ciclista ainda não muito acostumado a pedal mais longo.

Seguimos então, agora em dez na estrada. Se tem uma vantagem dessa rodovia, é o acostamento e o estado geral, muito bom. Sem contar o cuidado sempre necessário com os acessos, há muitas saídas, e quem trafega pelo acostamento, tem de atravessar para retornar pelo trajeto da rodovia. 

Motorista que entra nesses acessos, vem à toda, aproveitam as boas condições da pista. E nós nem sempre fazemos parte das preocupações desse pessoal.

Lembro ainda da segunda parada, já meio enjoados de comer bananas, foi só pra se hidratar e descansar um pouco, e aí foi o primeiro problema, pra mim.

Assim que saímos pra pista, pouco tempo depois senti uma cãibra muito forte, tão acentuada que endureceu minha coxa esquerda. Tive que parar no ato.

A Priscila logo se aproximou e pediu para que eu deitasse no acostamento. Até isso foi difícil. Estranho foi que a dor intensa passou do lado esquerdo pro direito. E eu tinha um voto de fé, desejava muito cumprir esse trajeto completo pedalando.

Mesmo sem nenhum creme ou gel, que estavam na van, ela massageou a musculatura, e a dor foi passando. Pediu pra eu relaxar, e eu tentei, ainda que a dor inicial fizesse com que contraísse sem controle.

A massagem surtiu efeito


Na sequência senti a musculatura ótima, sem qualquer sequela, pensei agora vai dar certo.

Na primeira descida, minha bike pegou um super embalo e até passei mais uma vez o guia, Anderson, e ele mesmo ainda disse:

- Tá vendo a Priscila fez uma super massagem agora o seu Roberto tá voando...

Não foi bem assim, mas o embalo tornou o pedal ainda mais emocionante é muito gostoso quando a bike passa dos 40 km h , mas isso logo acaba, porque tem subidas pra todos os gostos nessa rodovia.

Aí por volta de umas três da madrugada, a rodovia era erma, só se ouvia barulho de uma orquestra de grilos ao lado do acostamento.

Então depois de parar pra ajustar minha lanterna que estava caindo, o guia Anderson, parecia mais afobado pra meter marcha e seguir. Então a Priscila deixou o rádio comunicador com o Anderson Lima que seria dali em diante o acompanhante do fecha.

Eu não tinha muita escolha, precisava condicionar meu pedal pra atingir o objetivo de ir até o final. De nada adiantaria forçar a barra pra acompanhar e logo em seguida precisar parar com cãibras.

E o guia sumiu, logo após a segunda subida, deu pra ver as luzinhas piscantes das lanternas traseiras sumindo no topo da subida, aí o embalo da descida fez com que distanciassem ainda mais.

Nem eu nem o Anderson Lima tivemos a preocupação de alcançá-los, seguimos nosso trajeto no mesmo pique, à base de 20 a 25 km h , aliás o que havia sido combinado desde o início no anúncio do pedal.




Nessas alturas a estrada estava muito vazia, era uma delícia pedalar nesses trechos, um ou outro veículo passando. Alguns de mal gosto, achavam de passar muito próximos e buzinar, o que sempre assusta.

A gente nunca sabe quem é que está no volante, se um motorista consciente ou um monstrinho drogado, bêbado sei lá o que..

Mas a maioria ainda respeita, e passamos pelo menos uns 60 quilômetros ou mais sem aproximar do grupo. Inclusive passamos pela entrada de um posto de serviços, onde pensei que era um ponto de parada.

Comentei isso com o Anderson Lima, mas ele achou que não.  Na real, acho quem nem ele nem eu estava à fim de parar de pedalar naquele instante, e seguimos em frente.

Uns dois quilômetro adiante, a Priscila entra no rádio, e pergunta por nós.. o grupo havia justamente parado naquela entrada por onde passamos direto...

- Não esquenta que na próxima parada a gente volta a se encontrar.

Mas rolou um trechinho de stress, aí, eu pedi pro Anderson abrir o rádio pra falar, e mandei:   - Então o que foi combinado era o grupo andar sempre junto...

-Ela retrucou dizendo que pra isso estávamos com o rádio...

Aí tem o seguinte, pelo menos em duas oportunidades eu havia me entusiasmado e distanciado um pouco do grupo.  Fato.  Estávamos no meio da estrada agora, e o visual era outro. Tudo muito escuro, e realmente em grupo somos mais visualizados.

Deixei tudo pra lá, erro daqui, erro dali, estávamos num pedal, na estrada. E muito antes disso, havia pedido tanto pra padroeira abençoar nossa aventura. Não podia dar errado.

A Priscila havia sido muito solícita comigo, na real ela me salvou das cãibras. Mas o Anderson Sampaio, quando bate nas ideias de apertar o pedal, vá se lascar mano... ô cara enjoado...

Não achamos ruim não, havia ainda uma série de tuneis na rodovia, que fazia com que o ruído dos veículos aumentasse muito, pareciam tratores vindos sobre nós.

Assustava até... e já eram mais de 4 horas, momento em que o tráfego aumentou. Logo adiante, depois de várias subidas, avistamos o outro posto de serviço, onde provavelmente a Van estaria parada aguardando. Do outro lado da rodovia. Passamos pelo retorno sobre um viaduto e encontramos a danada, já quase amanhecendo.

E por coincidência o grupo que ficou pra trás, teve o primeiro caso de pneu furado.

No geral o pedal foi mesmo de passeio, tirando os excessos que aconteceram em alguns trechos. A gente sabia também que outros dois ciclistas o Rodrigo Ferreira e o Rafael Sales, iriam sair do Grajaú pela madrugada e prometeram alcançar nosso grupo. Isso era bem provável mesmo. A gente foi de boa, parando a cada 40, 50 km de pedal. 

Não havia clima de competição entre nós, tirando esses trechos que resolveram acelerar mais. Fomos pela Ayrton Senna, no geral mais longa, com mais subidas, porém ótimo estado de conservação.

A rodovia Dutra por onde esses ciclistas, amigos nossos, viriam, é mais rápida, mais curta e com menos subidas.

Por volta de 8 da manhã, paramos num posto de serviços e já havíamos atingido a marca de 160 km aproximadamente.  Ali foi momento pra um super lanche. Todos queriam comer algo salgado, ninguém aguentava mais comer bananas.. e esse seria nosso combustível pra chegar.







Nesse momento, lembro que a Priscila tentou me convencer a ir pra Van.  Mas ela não sabia do meu voto de fé, da minha obstinação em chegar pedalando. 

Inclusive nesse trecho o Anderson Sampaio que iria pra Van, vendo que eu insistia em pedalar, resolveu acompanhar também no pedal.

E foi um momento difícil pra mim, e acho que para os demais que insistiram no pedal. Com o sol aparecendo, começou a pintar um sono, e por vezes tive que forçar minha vista, os olhos queriam fechar e dormir e eu queria pedalar.  Sou muito grato ao amigo Anderson Lima que me acompanhou por um longo trecho, foram uns 60 km.

Nesse momento o Daniel foi o grande parceiro. E as cãibras voltaram a incomodar. Tive que parar novamente. Aí veio a pergunta que me feria por dentro: 
- Vai dar pra prosseguir, você não quer ir pra van?

Apalpei um pouco a coxa esquerda, massageei levemente, e notei que a musculatura tornou a relaxar...  e respondi o meu desejo mais forte:

- Vamos seguir, vou conseguir sim...

Não tinha assim tanta certeza, mas segui, e ia apalpando as coxas, à fim de conter aquelas contrações que volta e meia surgiam.

O sol aumentando de intensidade, deve ter contribuído, parece que com o aquecimento do clima, a musculatura  melhorava.

Logo chegamos à rodovia presidente Dutra, num trecho que dava pra identificar bem a diferença entre as estradas.  Piso muito irregular, buracos, trincas, muito movimento de veículos, principalmente caminhões à direita bem próximo do acostamento por onde o grupo pedalava.

Até antes de Taubaté, o trecho é muito ruim, mal conservado, e bastante movimentado. Lembro de alguns trechos onde viadutos tinham pilares justamente sobre o acostamento. Haviam umas setas desenhadas em preto num fundo amarelo indicando o fim do acostamento.

Achei que era certo seguir, pois estava numa subida, bem próximo da faixa branca, e toquei em frente. Quase no meio do viaduto, passou um caminhão tirando uma super fina e ainda buzinando. 

Falta de atenção, minha em primeiro lugar de não desconfiar desses motoristas.

E falar o que, de um motorista de caminhão que mete a mão na buzina ao mesmo tempo em que tira uma fina de um ciclista...

O colega Daniel, que vinha logo em seguida, não fez o mesmo, preferiu parar e aguardar um momento em que fosse possível atravessar o trecho sem veículos passando.

Alguns ciclistas da região, pedalando com suas bicicletas bem simples aquelas barras fortes, também trafegavam pelo acostamento. As bicicletas são marcas registradas pelo interior à fora. 

E assim avançamos chegando em fim no último ponto de parada, onde encontramos o pessoal. Soube que a dupla Rafael e Rodrigo haviam passado, por nós. Já era esperado. 

Muita emoção na chegada ao Santuário, estava contido em cada um, num silêncio vitorioso, e um cansaço recompensado pelo trajeto cumprido. Até o primo, saiu da van e pedalou os últimos doze quilômetros.  

Já no espaço do Santuário, fotos diante daquele colosso de igreja, etc e tal, e encontramos a dupla dinâmica, os ciclistas fenomenais, fora do comum: Rafael e Rodrigo, que disseram ter saído do Grajaú às 3 horas da madrugada. 

Seguiram pela Dutra, pouco mais curto trajeto, mas sem dúvida bem mais movimentado. Os caras pedalam muito mesmo, se tiver alguém aí, precisando de esquentar uma equipe de competição, tem aí os nomes dos caras: Rodrigo Ferreira e Rafael Sales.




Agora sobre o pedal todo, eu que pensei que não iria descrever, mudei de ideia por reconhecer que diante de tantos veículos que passaram por nós todos, éramos os mais frágeis, mais vulneráveis. E no entanto chegamos todos ilesos, protegidos. Isso não é só normal, é uma benção. 

Pensei também em muitas outras coisas, tanta gente desprotegida, pelas ruas das cidades, onde eu trabalho... tanta dificuldade, nas tragédias das crianças na Síria. No momento que vivemos no Brasil, tanto desemprego..

E sinceramente, acho que chegar ao Santuário é digno de descrever sim. Que nossa padroeira possa seguir protegendo nosso Brasil, nossos brasileiros país a fora.

Participaram desse pedal: Ailton (enviando sua força, valeu!), Priscila Silvestri, Anderson Sampaio, Márcio Queiroz, André Suave, Anderson Lima, Paulo Sérgio, Sérgio, Daniel Garcia, Roberto Zaghini, Hugo, Primo. 

























































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