A vida é feita de conquistas

Ah se alguém espera encontrar aqui um grande texto repleto de filosofia, já vou avisando, neste caso aqui é só uma estorinha criada para uma série de quadrinhos. O personagem apresento agora:____





Voava meio despretensiosamente num final de tarde, quer dizer havia uma segunda intenção naquele vôo.
Um corvo nunca dá um ponto sem nó, eu estava muito a fim de encontrar uma corvinha, ou uma gralha especial para namorar.




                        Conto: A vida é feita de conquistas
                            por: Roberto Zaghini

Emitindo meus chamados: graaaaaak graaaaaak... tradução: Hei gostosa, está me ouvindo?..

Mas já faziam alguns dias que eu convivia com uma dorzinha na asa esquerda, parecia uma cãimbra. Seriam sinais da idade?  Besteira pensei, logo logo me dou bem e provo pra mim mesmo que ainda estou podendo!

O sol já sumia no horizonte, e enquanto emitia meu chamado mais sensual, senti uma brisa mais forte empurrando lateralmente.  A dor ou a cãimbra, sei lá o que era, ficou mais forte.

Fui saindo do roteiro de voo que estava habituado, caramba comecei a sobrevoar paisagens desconhecidas, o vento ficando cada vez mais forte, a asa esquerda doendo mais.

Parece que passei por um túnel, mas isso não faz parte de nenhuma paisagem que conheço, ou seria uma parede transponível?  Escureceu um pouco mais e de repente clareou de vez e aí, pimba.  Bati de bico em algum lugar, parecia uma torre, e não resisti, fui caindo com uma asa aberta e a outra meio encolhida. Entrei em voo de parafuso em queda até o chão.

Graaaaak?  tradução: putz que dor, onde estou?

Queria me divertir e acabei num lugar esquisito. Acho que estava diante de um castelo.
Aí chegou um sapo curioso;

- Hei amigo, quem sabe você pode me ajudar? perguntou ele entre saltos, aproximando-se de mim.

- Quem está precisando de ajuda aqui sou eu, que lugar é este?

- Aqui é um reino e eu preciso de sua ajuda para libertar a princesa que está lá em cima na torre, vigada por um dragão.

- O que?

- Um dragão, e eu sou um príncipe que fui transformado por um feiticeiro malvado...

Aí foi demais, um sapo achando que era um príncipe? não aguentei.   Graaaaaak Graaaaakk Graaaaakk.
Tradução: Quá quá quá quá quá, kkkkkkkkkkkk, kkkkkkkkkk...

Voei com tanto esforço em busca de uma corvinha e me deparo com um sapo maluco.

Mas o sapo insistiu e passou a contar detalhes de sua história. Sinceramente, duvidei muito. De onde vim já encontrei corvos e gralhas bem malucos, tinham até aqueles que se achavam descendentes diretos da realeza britânica, mas daí a encontrar alguém, um sapo se achando um príncipe, achei demais, será que ele bateu a cabeça em alguma pedra? pensei.

- Vamos logo ao que interessa disse:  Você conhece alguma corva ou gralha por aqui? sabe onde posso encontrá-las?

- Preste atenção de uma vez sr. Corvo, você voa e pode ser muito útil. Primeiro você me ajuda, depois eu vou te ajudar também.

 Interesseiro pensei, parece com algum lugar que já ouvi falar bastante. Mas sou muito objetivo nessas horas.

- Fala aí o que você quer?

- Quero que você voe até a janela da torre, e leve essa chave aqui e entregue para a princesa que está presa lá em cima. Vai precisar tomar muito cuidado para que o dragão não note sua presença.

-Dragão? e solta fogo pela boca?

- Mas a essa hora deve estar dormindo. Então tudo  que tem a fazer é voar e levar a chave.

- É mas tem um probleminha aqui na minha asa esquerda, estou com umas dores, umas cãimbras que me incomodam muito e foi por isso mesmo que vim parar aqui.

- Podemos treinar um pouco antes, você voa e vai ver, vai conseguir.

Esse cara parecia muito positivista, ainda mais na situação que se encontrava, se não era um maluco de vez...
Resolvi aceitar esse desafio. Graaaaakk  tradução: vou tentar.

Primeiro levantei voo sem carregar nada, eu e o vento. A asa até que melhorou mesmo, só uma leve dorzinha ainda insistia em incomodar.

Alguns instantes de voo e aterrizei próximo ao sapo.

- Parece que você está bem, conseguiu voar bem alto, vi bem, até mais alto que a torre do castelo.

- Lá vem você de novo, o que vai ser agora príncipe?  Graaaaakkk?  tradução: seu maluco?

- Agora tudo o que tem a fazer é pegar esta chave aqui com o bico e voar até o alto da torre e entregar para princesa.

- Vou tentar, mas já aviso, só esta vez.

Peguei então aquela chave e decolei. O peso atrapalhou um pouco, mas ganhei maior resistência com o esforço, e até a cãimbra sumiu.  

A dificuldade maior ainda era alcançar altura. Voei em círculos e com a velha habilidade de um corvo atleta, alcancei a altura necessária.  Agora era questão de chegar até a janela do alto da torre.

Nem sei bem por que estava me esforçando assim pra atender o pedido de um desconhecido. Será que eu também estava impressionado com o pedido de um príncipe? Quem sabe eu poderia gozar de regalias, ter várias corvas, gralhas ao meu redor num reino cheio de amigos. 

Será que eu também estava fazendo isso por interesse? pensei... graaaaak tradução: que doideira..

Cheguei bem próximo da torre, estava atingindo a janela, quando o dragão colocou seu focinho fora e lançou uma chama na minha direção.

A primeira reação que tive foi graaaaaakk.. graaaaaakkk... tradução: To lascado, to frito!

A essas alturas a chave caiu do bico e atingiu em cheio o sapo lá em baixo.

Tratei de desviar o roteiro imediatamente. 

Aproveitando uma rajada de vento favorável, distanciei o máximo que pude.

Não perdi de vista, meu objetivo, graaaaakk, graaaaakkk, graaaaakk... tradução: Hei gostosa, está ouvindo? to chegando na área..

Quem sabe continua numa outra oportunidade, estou sentindo uma leve dorzinha nos meus dedos..

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