Um corvo não leva desaforo pra casa


Depois  de tantos encontros e desencontros, numa manhã com ventos mais fortes, lembrei daquele dragão. O mesmo que num acaso quase me torrou com uma baforada de fogo.
Ah se o vejo de frente novamente, acerto ele direitinho. Aí pensei, e por que  não?

 Conto:  Um corvo nunca leva desaforo pra casa

  Por:     Roberto Zaghini





Olhando assim para o meu tamanho e comparando com o dragão, poderiam pensar que eu estava ficando louco.  

Mas quem é que consegue medir o tamanho da inteligência, e principalmente do desejo de vingança de quem foi  desaforado?

Assim com esse pensamento na idéia, alcei vôo bem alto, semelhante à rota que havia feito naquele dia em que fui parar no castelo de um certo reino, com sapo, princesa, dragão  e tudo mais.


Pensando na dignidade dos corvos, voei até a mesma altura e local que havia voado naquele dia.
Caprichosamente a ventania soprou da mesma maneira mudando novamente minha trajetória.  



Aceitei o desafio de voar sobre terras desconhecidas, e assim  de repente avistei uma parede muito alta.

Entendi prontamente que deveria ser a torre do castelo. Lá em baixo aquele sapo pulando feito tonto, até imagino, deveria estar louco pra que eu o ajudasse a libertar a princesa etc. e tal.

Mas eu já tinha traçado meu roteiro, queria descontar aquela baforada do dragão..  Aí se a princesa soubesse aproveitar o momento, era com ela mesma. Ou então estaria gostando do dragão, vai Saber..

Passei pela janela da torre duas vezes, observei que o ambiente estava calmo. Não pensei duas vezes.  Entrei pela janela e fui direto até a testa do dragão, biquei com tudo em seu olho direito. 




Aí começou a movimentação.
Era gritaria pra lá, fogo pra cá, mas ele tinha uma enorme desvantagem com seu tamanho; Faltava mobilidade necessária pra me alcançar… Foi o que eu pensei.

Agora com um olho só, o dragão lançava chamas e tentava se virar.  Eu como um corvo esperto e preparado para esta situação, voava em torno de sua cabeça. 

O dragão tentava acertar com o rabo, mas ia arrebentando partes da parede..

Graaaaak  graaaaak  graaaaaak..   tradução: Fica esperta princesa, vai sobrar uma brecha pra você nesta história..

Foi aí que dei uma nova bicada, desta vez no olho esquerdo. Então as duas pálpebras se fecharam e ele ficou momentaneamente cego, virando-se pra todo lado e arrebentando paredes e até o teto. 

Tinha que voar a todo instante e às vezes emitia meu grito:   graaaaak  graaaakk  graaaaaakk graaaaaak .   Tradução: Hei trouxa estou aqui..

Nessas alturas o dragão se guiava pelo som, onde me ouvia lançava sua baforada de fogo. 

Assim, voei e gritei no seu traseiro, onde começava a calda, e pimba, Lá veio a baforada .. deve ter arrancado fora.

Voei mais próximo de sua pata, primeiro a direita, depois a esquerda, e pimba lá vieram outras baforadas.. 

Bastante ferido e se movimentando pra todo lado, o dragão começou a dar sinais de que sua chama de fogo não era mais a mesma.  




A porta daquela sala, no alto da torre estava toda arrebentada, a janela também.   Não vi mais a princesa, deveria ter saído enquanto eu lidava com o dragão.

Diante daquela situação, achei que já bastava. Havia dado uma lição naquela peste. 

Voei rapidamente na direção daquele enorme rombo, onde antes era uma janela e num instante me vi livre daquele castelo.

Voei, voei, voei o mais distante que pude, como havia feito na vez anterior.

Mas desta vez, com um ar de vitória, de quem enfrentou e venceu o dragão.  Nem olhei pra trás, como faz aquele que trilha sua trajetória vitoriosa. 

Meu objetivo foi alcançado, e voava em busca de terras conhecidas, onde haviam aquelas gralhas maravilhosas...   Graaaaak  graaaaak  graaaaak.. tradução: Hei gostosa ta me ouvindo? To chegando na área...

Um dia desses quem sabe volto  naquele lugar pra ver o que aconteceu. 

Quem sabe a princesa conseguiu escapar, o sapo pode ter virado príncipe... e alterado de vez a história daquele quadrinho..   

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